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quarta-feira, janeiro 04, 2012

Os Domingos precisam de feriados.

              Rabino Nilton Bonder



A pausa é fundamental para a saúde de tudo que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa.
Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

Para um mundo, no qual funcionar 24 horas por dia, parece não ser suficiente,
onde o meio ambiente e a terra, imploram por uma folga,
onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo,
descansar se torna uma necessidade do planeta.

Hoje, o tempo de “pausa” é preenchido por diversão e alienação.
Lazer não é feito de descanso, mas de “ocupações” – para não nos ocuparmos.
A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar.
E a necessidade de parar é uma forma de depressão.

O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
Nossas cidades se parecem mais com a Disneylândia.
Longas filas para aproveitar, experiências pouco interativas.
Fim do dia com gosto de vazio.
Um divertimento que nem é bom, nem ruim,
Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória
de uma expectativa frustrada, que ninguém revela
para não dar gostinho ao próximo...
Entramos no milênio, num mundo que é um grande shopping.
A internet e a televisão não dormem.
Não há mais insônia solitária, solitário é quem dorme.
As bolsas do ocidente e do oriente se revezam, fazendo do ganhar e perder,
das informações e dos rumores, atividade incessante.
A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo.
Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente,
mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa.

O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.
As montanhas estão de olheiras, os rios precisam de um bom banho,
as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...

Nossos namorados querem “ficar”, trocando o “ser” pelo “estar”.
Saímos da escravidão do século XIX, para o leasing do século XXI.
   - Um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco.
Nunca tantos fizeram tanto, por tão poucos.
Parar não é interromper.
Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.
O dia de não trabalhar, não é o dia de se distrair:
- É literalmente, ficar desatento.
É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com a Vida.

A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: “O que vamos fazer hoje”?
- Já marcada pela ansiedade.
E sonhamos com uma longevidade de 120 anos,
quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde.
Quem mata tempo, fere-se mortalmente.
É este o grande “radical livre”, que envelhece nossa alegria.
O sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares.
A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois.
A pausa é que dá sentido à caminhada.
A prática espiritual deste milênio será viver as “pausas”.
Não haverá maior sábio, do que aquele que souber,
quando algo terminou e quando algo vai começar.

Afinal, por que o Criador descansou?
Talvez porque, mais difícil do que iniciar o processo do nada,
 seja dá-lo como concluído.







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