Seguidores

sábado, março 02, 2013

A Carroça

Autor: Wallace Leal Rodrigues   


Uma das grandes preocupações de nosso pai, quando 
éramos pequenos, consistia em fazer-nos compreender 
o quanto a cortesia é importante na vida.
Por várias vezes percebi 
o quanto lhe desagradava o hábito que 
têm certas pessoas de interromper a conversa quando 
alguém estava falando. Eu, especialmente, incidia 
muitas vezes nesse erro. 
Embora visivelmente aborrecido, ele, entretanto, 
nunca ralhou comigo por causa disso,
 o que me surpreendia bastante.
Certa manhã, bem cedo, 
ele me convidou para ir ao bosque 
a fim de ouvir o cantar dos pássaros. 
Acedi com grande alegria e lá fomos nós, 
umedecendo nossos calçados com o orvalho da relva.
Ele se deteve em uma clareira e, depois de um pequeno 
silêncio, me perguntou:
-- Você está ouvindo alguma coisa 
além do canto dos pássaros?
Apurei o ouvido alguns segundos e respondi:
-- Estou ouvindo o barulho de urna carroça que deve 
estar descendo pela estrada.
-- Isso mesmo... disse ele. É uma carroça vazia...
De onde estávamos não era possível ver a estrada
 e eu perguntei admirado:
-- Como pode o senhor saber que está vazia?
-- Ora, é muito fácil saber que é uma carroça vazia. 
Sabe por que?
-- Não! respondi intrigado.
Meu pai pôs-me a mão no ombro e olhou bem no fundo 
dos meus olhos, explicando:
-- Por causa do barulho que faz. 
Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Não disse mais nada, 
porém deu-me muito em que pensar. 
Tornei-me adulto e, ainda hoje, 
quando vejo uma pessoa tagarela e importuna, 
interrompendo intempestivamente 
a conversa de todo o mundo, 
ou quando eu mesmo, por distração,
 vejo-me prestes a fazer o mesmo, 
imediatamente tenho a impressão 
de estar ouvindo a voz de meu pai 
soando na clareira do bosque e me ensinando:
      Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.

Um comentário:

Nada é pequeno e sem valor, quando é feito com Amor!
Fico muito, muito feliz quando você deixa um comentário.